Conhecida mundialmente pelos calçados e pelo tradicional basquete, Franca também carrega uma marca profunda: sua identidade cultural. Histórias, memórias, artistas e espaços ajudaram a moldar a cidade como um patrimônio vivo. Entre esses nomes está o maestro Laércio Piovesan, figura que marcou a geração dos anos 1970 com seu trabalho e com as apresentações nos encontros de domingo na Concha Acústica.
Para entender a importância de Laércio para a música francana, é preciso lembrar quem caminhou ao lado dele. Um desses parceiros é o fotógrafo Delzio Marques. Sua relação com a arte o levou à fotografia, e a fotografia o levou ao maestro. O primeiro encontro aconteceu em 2011, quando Delzio registrou a gravação de um CD de Laércio ao lado de jovens músicos da cidade. A partir dali, formou-se uma parceria que durou 12 anos.
Delzio acompanhou o maestro em ensaios, apresentações e bastidores. Com sensibilidade e respeito, transformou o movimento das mãos, a entrega e a emoção do músico em uma coleção afetiva de imagens. Dessa amizade nasceu a exposição Laércio de Franca: O Som que Eu Vi, trabalho que eterniza sua trajetória e seu impacto artístico.
“Quando eu fotografei o Laércio lá pela primeira vez no estúdio, não havia intenção alguma. Chegou em 2016, eu tive a ideia de fazer uma exposição fotográfica, para mostrar parte desse acervo que tinha dele em várias ocasiões. Pensei que, se o Laércio já está com 86 anos, e eu tinha um acervo muito bacana de fotos que eu gostava, além de estar mostrando meu trabalho, eu posso fazer disso uma homenagem. A exposição foi a última homenagem que ele recebeu em vida”.
Outro amigo próximo que guarda memórias desse período é o músico Beny Chagas, vocalista da banda de Laércio. Ele recorda com carinho a energia dos encontros nas tardes de domingo na Concha Acústica, espaço que reunia jovens, famílias e amantes da música. Para Beny, Laércio merece ser lembrado pela contribuição à formação musical da cidade, mas lamenta que os jovens conheçam pouco sua história.
“Falta um elo aí para a divulgação do Laércio. Ele foi um dos caras que mais projetaram o nome de Franca por aí afora. O Laércio merece um nome de logradouro público, uma rua, uma praça, aliás, uma sala especial no Museu da Imagem do Som. Aí sim haveria um vínculo e uma influência para a nova geração”.
Enquanto nomes como Laércio escreveram capítulos fundamentais da história cultural de Franca, novos espaços seguem ampliando e renovando o cenário. Inaugurado em 2024, no bicentenário da cidade, o Sesc Franca rapidamente se tornou um ponto de encontro da produção cultural local. No aniversário da cidade, a unidade celebra também seu primeiro ano de funcionamento.
Sendo a maior unidade do Sesc no interior paulista, o Sesc Franca recebe atualmente mais de três mil pessoas por dia. Piscinas, quadras, ginásio, teatro e uma programação cultural diversa movimentam o espaço e aproximam diferentes públicos.
Segundo a gerente da unidade, Camila Machado, o primeiro ano foi marcado pela intensa participação da comunidade e por ações que valorizam artistas locais, democratizam o acesso à cultura e incentivam novas formas de expressão artística.
Os centros culturais do Sesc unem convivência, gastronomia regional, releituras da tradição e experiências que integram arte, educação e inclusão — e, em Franca, não tem sido diferente.
“Agora pra gente é um exercício, porque a gente fez um primeiro ano de muitas experimentações. Então, acho que agora o que a gente vai entender é: qual é o perfil desse público que frequenta o SESC? Será que os horários que a gente escolhia fazia sentido? Então, a gente vai ganhar agora uma chance também de ir customizando e deixando mais ainda com a cara da população, de quem frequenta, dos gostos, a ideia agora é ir reformulando, estruturando, mas foi um ano lindo. A população de Franca estava esperando o Sesc chegar”, comenta Camila.
No aniversário da cidade, celebrar o encontro entre história e renovação é reconhecer o que inspira o futuro. Franca segue construindo sua identidade cultural, preservando suas memórias e abrindo novos palcos para a arte florescer.