Por décadas, Franca foi reconhecida nacionalmente como a capital do calçado masculino. A história da cidade sempre esteve ligada ao couro, às máquinas e ao talento de milhares de trabalhadores que ajudaram a construir uma identidade baseada no ofício e na força da indústria. Entre essas histórias está a de Luís Donizete Pereira, sapateiro que viveu de perto o auge e as transformações do setor.
Luís começou cedo. Aprendeu a pespontar ainda na infância e, aos 13 anos, conseguiu seu primeiro registro profissional na antiga fábrica de calçados Guaraldo. Trabalhou em empresas tradicionais da cidade, até que muitas delas fecharam as portas. Com o enfraquecimento do setor, decidiu seguir o caminho artesanal. Hoje, soma 34 anos de profissão e, há 21 deles, mantém o próprio negócio.

Mesmo diante das dificuldades e da queda no número de fábricas, ele nunca pensou em abandonar o ofício. Para Luís, os desafios são justamente o que tornam a profissão tão especial.
“Porque cada vez é algo diferente que a gente faz. É um sapato, às vezes um ortopédico que a gente vai fazer para uma pessoa que necessita de uma altura, ou tem uma deficiência no pé, esse desafio que é o interessante para a gente fazer, entendeu? Porque um sapato normal é simples de fazer, o desafio assim é melhor”, explica o sapateiro, que segue motivado pela paixão e pelo cuidado com cada peça que produz.
Enquanto profissionais como Luís mantêm viva a tradição que moldou Franca, a cidade escreve um novo capítulo da sua história econômica. Nos últimos anos, o município se tornou um dos maiores polos de e-commerce do Brasil: é o segundo maior do Estado de São Paulo e o quarto do país.
O crescimento acelerado do comércio digital revelou uma nova geração de empreendedores, que levaram a experiência da indústria local para o ambiente online.
Para Rafael Henrique Soares, empreendedor digital, essa transição foi natural. “Franca sempre foi uma terra de designers e empreendedores natos”, afirma. Ele destaca que, após a pandemia, a curva de crescimento do comércio eletrônico aumentou significativamente.

A qualidade já reconhecida da produção francana, antes concentrada no calçado, foi expandida para outros segmentos, como vestuário, moda praia e artigos personalizados. A facilidade de importação também impulsionou a cidade como sede logística de empresas que enviam produtos para todo o Brasil.
De olho nesse movimento, a Câmara Municipal aprovou o projeto Futura Franca, que prevê a realização de uma semana anual dedicada à ciência, inovação, empreendedorismo e tecnologia. A iniciativa busca integrar diferentes setores da economia local e estimular novos negócios.

Segundo Rafael, o programa tem papel fundamental ao aproximar cadeias produtivas e incentivar conexões entre empresas. “O intuito é gerar mais negócios, conectando tecnologia, inovação e e-commerce”, afirma.
Franca mostra que tradição e inovação podem caminhar juntas. O futuro da cidade nasce justamente da união entre o artesanal e o tecnológico, valorizando suas raízes industriais enquanto se adapta às novas demandas do mercado global.

Para Rafael, esse equilíbrio é essencial. “Se produtores e empreendedores mantiverem esse olhar para as tendências e tecnologias, creio que aí é o casamento perfeito”, conclui.