Em Franca, o ofício de sapateiro segue firme como uma herança familiar e símbolo da identidade local. A tradição, passada de pai para filho, mantém viva uma das principais atividades econômicas da cidade, reconhecida nacionalmente como a capital do calçado.
Yasmin Duarte cresceu vendo o pai modelar calçados e decidiu seguir seus passos. Hoje, é aluna do curso técnico em Design de Calçados do SENAI. “O meu pai começou a trabalhar como modelista muito cedo, então eu acredito que foi por causa dele, porque ele gosta de trabalhar com aquilo, parece uma coisa que é legal, uma dinâmica legal, então eu vim por causa disso”, contou.

A história se repete em muitas famílias francanas. Antonio Alves de Castro, diretor comercial de uma empresa do setor, relembra as origens da fábrica fundada por seu pai. “Meu pai veio de Delfinópolis, começou a fazer umas botinas, nós começamos a entregar de perua, levar sapato para os clientes de perua Kombi, e foi começando a fazer sapato social, foi começando a desenvolver umas modelagens diferentes”, relembrou. “Essa fábrica nossa está na geração do meu pai, na minha geração e agora está indo para a geração dos meus sobrinhos.”

Com o avanço das vendas online, o setor calçadista precisou se adaptar à nova realidade do mercado digital. “Nós fomos estruturando. Começou com nossos 200 pares, 500 pares, 800 pares, 1000 pares, e hoje nós estamos com a produção de 2000 pares por dia. Mas nós estamos com a dificuldade de mão de obra, né?”, comentou Antonio.

Entre os trabalhadores do setor, o sentimento é de orgulho por uma profissão que sustenta famílias e constrói histórias. “Simboliza tudo na minha vida, porque foi o começo e eu acredito que agora vou aposentar nessa área também. Tudo que eu consegui na minha vida até hoje foi através do sapato”, afirmou Alex Leonardo Cavalcante, supervisor de corte.

Para Roselaine dos Reis Gonçalves, chanfrareira de calçados, “representa muita coisa pra gente, principalmente em Franca, a capital do calçado. Significa muito.”
O supervisor de preparação Marciel Martins da Silveira compartilha do mesmo sentimento: “Tudo o que tenho na minha vida foi através do calçado e hoje tenho o maior orgulho de ser sapateiro.”

Com o propósito de manter a indústria calçadista ativa e moderna, o SENAI Franca oferece o curso técnico de Design de Calçados. “Nossa missão é contribuir para o aumento da produtividade da indústria por meio de educação, da tecnologia e inovação e do empreendedorismo industrial”, explicou o diretor da instituição, Vagner Lopes Munhoz. “Nós estamos fazendo isso há 50 anos aqui na cidade de Franca, e contribuindo para que a indústria tenha um diferencial competitivo nessa área tecnológica e que Franca continue sendo um polo de excelência no setor coureiro calçadista.”

No curso, os alunos aprendem a confeccionar calçados desde o desenho até a finalização, utilizando ferramentas digitais e recursos de inteligência artificial. “Inicia-se com o processo de criatividade, aliado a bastante pesquisa, tendência de moda, busca por novas estações, coleções, e desenvolvimento destes produtos para a indústria”, explicou o instrutor Clécio Telini.

De acordo com o coordenador técnico-pedagógico do SENAI Franca, Sérgio Roberto Cintra, o curso é gratuito e aberto à população. “Nós temos ofertas de cursos da aprendizagem comercial e cursos técnicos, que a gente chama de cursos regulares. Eles são por meio de processo seletivo sem custo nenhum para o discente [...] A área do calçado é muito privilegiada e muito valorizada pelo SENAI São Paulo nessa valorização de mão de obra”, afirmou.

Entre ferramentas, solas e fios, o sapateiro mantém vivo um ofício que atravessa gerações. No Dia do Sapateiro, celebrado em 25 de outubro, o reconhecimento vai para quem trabalha com as mãos — e com o coração.