Na manhã desta terça-feira (19), durante a 33ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Franca, a vereadora Marília Martins (PSOL) utilizou a Tribuna para abordar diversos problemas sociais e estruturais do município.
Trabalho análogo à escravidão
O ponto central de sua fala foi a repercussão da reportagem que revelou o resgate de oito trabalhadores em condições análogas à escravidão nas obras de restauração das praças Nossa Senhora da Conceição e Barão.
De acordo com fiscalização do Ministério Público do Trabalho, os homens estavam há pelo menos três meses sem receber salários e viviam em alojamentos precários.
Marília relacionou o caso às desigualdades estruturais do país: “‘Eu falo muito das nossas heranças escravagistas, enquanto sociedade ao modelo que apresenta aos pobres condições péssimas de vida, embora, Franca seja a 2ª melhor cidade do Brasil para se viver para quem ganha acima da média’ disse. Ela reforçou ‘uma obra que está atrasada há tanto tempo, obras atrasadas há mais de anos em outros pontos da cidade, qual o tipo de fiscalização? Qual é o tipo de procedimento adotado pela Administração? E essa tolerância, abre espaço para que em pleno 2025, a gente encontre em nossa cidade pessoas em situação análoga à escravidão’
Segundo a vereadora, o perfil dos trabalhadores resgatados mostra a face da vulnerabilidade: “São pessoas pobres, negras, migrantes, que chegam com esperança de uma vida melhor. Aceitam essas condições porque não têm opção, e ainda escutam: se não estão felizes, peçam as contas.”
Transporte coletivo e saúde pública sob críticas
A parlamentar relembrou denúncias feitas anteriormente sobre os motoristas do transporte coletivo, que enfrentam jornadas exaustivas, sem locais adequados para descanso ou refeições.
Também criticou as condições precárias nas unidades de saúde, citando o raio-X da UPA do Aeroporto: “Desde o início do ano eu denuncio que o aparelho estava apoiado por um pedaço de pau para não cair. Agora, a parte de revelação foi ‘consertada’ com um pedaço de lápis. É nessas condições que os servidores, expostos a um equipamento altamente cancerígeno, precisam revelar várias vezes as chapas porque as imagens não aparecem.”
Situação de rua e exclusão social
Ao tratar da situação de rua, Marília comparou a realidade de Franca ao cenário da série The Walking Dead, em referência à degradação social causada pelo uso de drogas e pela falta de políticas públicas eficazes.
Ela criticou a redução das refeições fornecidas pela Prefeitura — de 100 para 50 por dia — destinadas a mais de 900 pessoas em situação de rua: “Já era insuficiente antes. Agora, além de reduzir, empurram essas pessoas para a Vila Gosuen, reproduzindo há 40 anos atrás, o chamado ‘favelão de Franca’”
A vereadora defendeu medidas estruturais como ações contra o tráfico de drogas, qualificação profissional e políticas públicas integradas de inclusão social.
Direitos das crianças e adolescentes
Em sua fala final, Marília tratou da exploração de crianças e adolescentes, especialmente na internet; “agora até a direita fala em direitos humanos. Mas precisamos parar de hipocrisia. Os estupros acontecem em 80% dos casos contra crianças, e 70% dentro das casas, cometidos por familiares. Temos que punir os estupradores com rigor, ao invés de atacar meninas que engravidam por estupro ou discutir se meninos vestem azul e meninas rosa.”