O maestro Nazir Bittar fez uso da Tribuna Livre para falar sobre a atual situação da Orquestra Sinfônica de Franca na manhã desta terça-feira, 27 de fevereiro, de 2024 durante a 4ª Sessão Ordinária realizada no auditório do Uni-Facef.
Inicialmente agradeceu aos parlamentares pelo espaço e comentou ‘sou Maestro e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Franca criada no final de 2007 e seus desmembramentos como, a Orquestra Jovem de Franca criada em 2010, Ensemble Vocal da OSF criado em 2015, diretor artístico do concurso a Mais Bela Voz Infantil reativado em 2018, a Mais Bela Voz Adulta criado em 2022 e do Coro Infanto-Juvenil Jovens Cantores de Franca criado em 2019’
‘O motivo de estarmos hoje aqui, e quando digo estarmos é porque não estou sozinho! Eu nunca estou sozinho! E aqui estão Vera Jacinto Rodrigues Alves, vice-presidente da Associação Cultural da Região da Alta Mogiana (ASCRAM), mantenedora da OSF e seus desmembramentos e que já foi presidente da associação por dois mandatos e hoje representa a atual presidente Cristina Tozi que não pôde estar presente. Temos Dr. Fernando Melo Diretor Jurídico, Raquel Mendes Prior, temos integrantes do Ensemble Vocal da OSF Fernando Diniz, e também amigos e público de nossos concertos que vieram nos apoiar neste momento’ acrescentou
Em seguida, Nazir pontuou ‘o motivo é colocar vocês vereadores representantes do povo francano a par do que aconteceu e do que está acontecendo na orquestra. Cada um de vocês agora receberá uma cópia do ofício protocolado ontem no Gabinete do Prefeito e na Feac solicitando vistas a questão do vínculo da Prefeitura com a Ascram. E que esse vínculo voltasse as bases anteriores para salvaguardar o único programa cultural regular da cidade promovido pelo Poder Público!’
‘O que aconteceu foi que em abril de 2023, no momento de fazermos o aditamento do contrato que vigorava desde 2009, com interrupção de um ano e meio justamente no final do primeiro mandato do atual prefeito Alexandre em 2016, e só sendo retomado em 2018 no governo Gilson. Houve um retardo nos trâmites internos da FEAC que acarretaram na perda da data limite para aditamento, o que configura perda total do vínculo com a Prefeitura, fazendo-se necessária, a formação de um novo contrato iniciando-se do zero todo o processo’ explicou.
Ele continuou ‘para nós era totalmente inesperado e surpreendente! E em reunião marcada na FEAC para falarmos sobre as comemorações dos 200 anos de Franca, ao invés de falarmos sobre o plano elaborado por mim para as festividades, nos foi informado que o gabinete entendeu que o vínculo da Prefeitura com a Ascram não era mais desejado no formato que se apresentava desde 2009’.
Nazir questionou os critérios usados pela Prefeitura para o encerramento da parceria sob alegação de mudanças na legislação e de que não havia interesse em manter as atividades. ‘Eu me pergunto e pergunto a todos, o que é então interesse da Prefeitura? O prefeito foi confrontado com o fato de termos há anos um projeto que se intitula música para todos que é justamente levar música orquestral nos bairros mais afastados!’ questionou.
‘Foram oferecidos a FEAC e a Secretaria de Educação e que nunca tivera a devida atenção ou interesse, apesar de ser extrema valia na formação de nossas crianças e população em geral, não houve reação’ lembrou.
O maestro citou ‘em outra reunião nos foi informado que a verba mensal de R$ 15 mil que apesar de pouca, viabilizava toda a manutenção da orquestra profissional, da orquestra jovem com uma monitora do Ensemble do Coral, das crianças com dois monitores nos concursos. Seria reduzida, e que a partir de então seriam compras de apresentações individuais a R$ 5 mil’
‘Obviamente que com o corte vertiginoso como esse impossibilita completamente a manutenção de todo o programa cultural em vigor há 15 anos em nossa cidade. E que é de notório sucesso! Vale lembrar que o repasse da Prefeitura começou com R$ 4 mil em 2009, foi para R$ 9 mil em 2010, em 2012 houve um reajuste para R$ 12 mil que perdurou até 2022 sem nenhum tipo de reajuste, e foi então que houve um reajuste para R$ 15 mil para realização de 10 concertos e a manutenção normal do projeto’ disse Nazir.
Em termos de comparação foi citado o investimento na Orquestra Sinfônica de Barretos que recebia R$ 104 mil por mês em 2019.
‘Nos últimos 15 anos, tivemos óperas musicais, concertos nas praças, rodas de samba, concertos diversos na catedral que lotava a igreja e comemorações de eventos na cidade. Na pandemia o Ensemble Vocal OSF percorreu na madrugada os prontos socorros, UPAs e UBSs levando música e alento aos profissionais da saúde tão exauridos pelo cansaço. Fizemos concertos nos bairros e que encantaram a população periférica fazendo com que despertasse o interesse desse público a futuros concertos da orquestra’ recordou.
Nazir concluiu ‘analisando tudo que foi feito nos últimos 15 anos apesar da verba mínima achamos por bem vir aqui e compartilhar essa situação com vocês, pedindo que haja algum movimento dessa casa para que algo tão importante não seja extinto dessa forma. Um projeto só é extinto quando não há verba, o que não é o caso! Quando não há público que também não é o caso! Ou quando o trabalho apresentado é de má qualidade que também não é o caso!’
O vereador Ilton Ferreira (PL) lamentou ‘é muito triste, lamentável a questão da cultura e da arte da nossa cidade, a cada dia morrendo e a gente não vê realmente nada’
‘As ações musicais seriam uma forma de estimular mais a nossa educação, eu também com sinceridade não vislumbro nada, porque conforme as palavras do prefeito, não é interesse da Prefeitura. Fico muito triste por isso, você trabalha nessa área, eu também trabalho nessa área e a gente sente que a música é o complemento da emoção da afetividade das nossas crianças e alegra tanto os adultos. Infelizmente as palavras do prefeito demonstram como está o Poder Executivo’ concluiu.
O vereador Gilson Pelizaro (PT) agradeceu a presença do maestro e os apontamentos feitos e em seguida disse ‘tenho sérias críticas a questão cultural do jeito que vem sendo tratada em Franca. Primeiro, eu acho que um professor de educação física não tem qualificação para cuidar da parte cultural do município! Eu defendo que a cultura pela expressão que precisava ter, tinha que ter orçamento próprio, tinha que ser separado, a cultura, do esporte’
‘A cultura em Franca está asfixiada, eles estão matando a cultura em Franca! Festas tradicionais sempre patrocinadas pelo Poder Público, ficaram a ver navios! Não receberam um tostão! Haja visto o Carnaval e o que algumas agremiações tiveram que fazer para que a cidade não ficasse sem absolutamente nada! E pior, porque você pega uma festa como o carnaval e a cidade do tamanho de Franca não investe em um evento cultural que o povo brasileiro curte e gosta!’ lamentou.
‘É muito triste! Na comemoração de 200 anos uma orquestra tão tradicional como a Orquestra de Franca ficar simplesmente fora do projeto, absolutamente fora do projeto, então, nós temos que fazer aqui um documento, entregar para o prefeito, que nós da Câmara Municipal estamos insatisfeitos com a maneira com que a cultura vem sido tratada no município’ concluiu.
Marcelo Tidy (PL) pontuou ‘tudo que os meus colegas disseram também endosso as palavras. E quando vê um trabalho como o seu, a gente sente falta, porque pelos quatro cantos da cidade sempre víamos o Maestro Nazir Bittar, uma pessoa tão querida, uma pessoa tão educada, de fino trato. E esses dias nós tivemos um bom bate papo explicando como funciona a questão da política, e acho nós precisamos ter um engajamento maior na cultura’
O vereador Claudinei da Rocha (MDB) destacou ‘o Nazir sempre foi um parceiro do projeto Amigos Solidários que trabalha com a formação de músicos e hoje está com dois núcleos no Aeroporto 3 e na Vila São Sebastião. São mais de 100 crianças que estão sendo formadas na música. A Orquestra Sinfônica na qual o Maestro Nazir está à frente servia de espelho para os nossos alunos! Os alunos sonham, ou sonhavam estar trabalhando na Orquestra Sinfônica, então, eu quero mais é fazer justiça, porque o certo é certo, e o trabalho é excelente! Na minha visão precisa continuar porque é um espelho, é um diferencial’
O presidente da Câmara vereador Della Motta (Podemos) agradeceu a presença do maestro, demais diretores da Ascram e enfatizou ‘eu também vou na linha do Gilson Pelizaro, acho que tem que separar o esporte, da arte e da cultura. É inadmissível! Você interromper um investimento de R$ 15 mil! É um absurdo isso! Eu acho que nós estamos perdendo os artistas, nós estamos perdendo referência, nós estamos perdendo a oportunidade de fazer a diferença na vida de pessoas!’
‘Depois nós reclamamos, as pessoas desse naipe estão indo embora da cidade. É inadmissível nos 200 anos de Franca a nossa orquestra não fazer parte! É a mesma coisa colocar o Maestro Nazir Bittar para tomar conta de atletas de alto rendimento, não se coaduna essas coisas! Tanto é que uma secretaria de arte e cultura é necessária a nossa cidade, olha o tanto que a questão da valorização do ser humano, nós tratarmos para tirar essas crianças trazer para a música e manter uma referência um maestro’ ressaltou.
Della Motta concluiu ‘vamos colocar peso nesse ofício e também vamos fazer uma provocação ao Poder Executivo. Não é porque são 200 anos de Franca, poderia ser os 300, mas desde o início ter sempre a presença da nossa valorosa orquestra, é a valorização é a cultura! Nós só melhoramos o país através de educação e cultura, nós não melhoramos o país através de outras coisas’