E de autoria da vereadora Lindsay Cardoso (Cidadania) foi aprovada na 44ª Sessão Ordinária a Moção de Aplausos 100/2023 à cachorra Ronda, pelos sete anos de “cãoterapia” prestados à comunidade francana.
Justificativa
A Ronda é uma pastora alemã de coloração dourada, mas seus donos acreditam que ela tenha sangue de Pastor Belga Malinos. Ela foi encontrada pelo educador canino Mateus Carvalho próximo ao CDP de Franca.
A cachorra estava andando próxima ao lixão, extremamente magra e fraca. Ele não pensou duas vezes e a colocou no carro.
Em uma clínica veterinária, foram realizados alguns exames, através dos quais constatou-se que ela era uma filhotona com no máximo oito meses e estava em estado avançado de desnutricão, com anemia profunda devido a erliquiose e babesiose em estado crítico.
As primeiras duas semanas a partir dali foram de muita luta pra mantê-la viva. Na terceira semana, ela apresentou um inchaço incomum na barriga e Mateus e sua esposa Paola suspeitavam de algo grave no fígado por causa dos medicamentos que ela tomava para combater a doença do carrapato e anemia.
A essa altura do campeonato, os dois já haviam decidido que ela não seria doada, pois já tinham se apegado muito a ela. Ronda fez um ultrassom e Mateus e Paola receberam a notícia de que seriam avós! Porém as notícias não eram tão boas assim, pois os filhotes poderiam não sobreviver depois do parto, apresentar sérias deformações e Ronda poderia até mesmo sofrer um aborto espontâneo devido aos medicamentos que ela estava usando. Então, só restava a Mateus e Paola aguardar...
Eles iniciaram a suplementação para cachorras prenhas e a vigiavam constantemente. Eis que, algumas semanas depois, nasceram oito filhotes...lindos, saudáveis e fortes! Todos os filhotes foram castrados, vacinados e doados e logo após a Ronda foi castrada também. Durante a sua recuperação da castração, seus donos descobriram um pequeno tumor na pele dela.
Foi feita a sua retirada e iniciou-se a quimioterapia. Graças a Deus, ela foi curada do câncer e começou a ganhar peso e musculatura, seus pelos cresceram e Mateus e Paola iniciaram treinos de obediência básica com ela. Eles observaram que Ronda possuía um traquejo social muito grande. Ela sempre foi cautelosa e cuidadosa, principalmente com crianças e idosos.
Além disso, ela sempre foi uma mãezona pra todos os filhotes que Paola e Mateus resgataram da rua, ajudando as mãezinhas a cuidarem da turminha; a cadela chegou a ter 30 filhos postiços.
Ronda também salvou muitos cães doando sangue: era a paixão dos veterinários pois nunca deu trabalho durante a captação. Com essas observações, Paola e Mateus foram treinando-a para apresentações e ela sempre ia correndo de encontro com as crianças.
Em 2016, uma cliente do casal, que era psicóloga do Lar São Vicente de Paulo perguntou se ela não poderia ir visitar os residentes de lá. Ronda amou a visita, os residentes ficaram muito eufóricos e felizes com a presença dela e a cachorra, Mateus e Paola foram convidados a fazer parte da vida deles desde então.
A melhora na vida dos idosos é impressionante com a chegada da Ronda, que desde então passou a fazer visitas quinzenais no Lar até o início da pandemia.
Além disso, a cachorra visitava escolas e creches e também ajudava seus donos em muitas palestras de conscientização sobre posse responsável e castração. Mateus e Paola iriam até iniciar alguns estudos com Ronda, pois a cachorra sabia quando um idoso estava prestes a falecer... Todos a que ela se apegava e sentava debaixo da cadeira ou não queria sair de perto vieram a falecer dias depois... Porém a pandemia chegou e as visitas passaram a ser virtuais e o projeto de estudar esse comportamento ficou pra trás. Ronda retomou o projeto de visitações no final do ano passado e seus donos já estavam preparando outro cão para ajudá-la nas visitas.
A carga emocional depositada nela começou a aumentar, pois mais idosos e crianças estavam querendo participar da “cãoterapia” e, para não sobrecarregá-la, decidimos treinar um cão de uma cliente que tinha aptidão para ser um cão de suporte emocional. Posteriormente, esse cão, que se chama Aslan, foi doado para a mãe de Paola, que tem câncer. A Ronda acompanhava os treinamentos do Aslan, ensinando limites como uma boa mãe.
Desde a retomada das atividades em definitivo, ele está acompanhando a Ronda na missão. Sabendo da aposentadoria da Ronda e que o Aslan ia seguir sozinho até a gente preparar outro cão, uma cliente nossa nos presenteou com a Holly, uma filhote que se destacou na “cãoterapia”.
Após a vacinação, ela iniciou neste mês de novembro as visitas ao lar junto com a Ronda e o Aslan. Hoje, a Ronda está com quase 10 anos e precisa descansar e encerrar a carreira com chave de ouro.
Neste último ano, Mateus e Paola não a levaram para visitar nenhum lugar com exceção do Lar por causa da idade da Ronda, optando por deixarem-na mais tranquila para nadar na piscina dela.
Ronda cumpriu com louvor sete anos de “cãoterapia” em Franca, trazendo conforto, alegria e carinho a idosos e crianças da cidade. Agora, seus esforços merecem ser congratulados e reconhecidos.
Vereadores
O tema gerou debate e divergências de opiniões, o vereador Daniel Bassi (PSDB) parabenizou a autora da proposta pelo trabalho em defesa da causa animal, mas questionou quanto a legalidade da proposta e solicitou esclarecimentos.
Já o vereador Ilton Ferreira (PL) ressaltou trabalho feito pela colega Lindsay em defesa da causa animal, mas sugeriu mudar a redação da moção e cogitou o adiamento da proposta.
Já os vereadores Della Motta (Podemos), Gilson Pelizaro (PT), Ronaldo Carvalho (Cidadania), Pastor Palamoni (PSD), Marcelo Tidy (União) parabenizaram a autora da homenagem, os donos do animal e se manifestaram favoráveis a proposta.
A vereadora Lindsay Cardoso (Cidadania) defendeu a proposta e solicitou a exibição de fotos no Plenário de outros animais que receberam homenagens em outras cidades.
‘A cachorra cãoterapeuta Maria Flor recebeu Moção de Aplausos em Juiz de Fora-MG e tem outros animais, é um trabalho muito importante! A Ronda é uma cadela que foi resgatada da rua e faz um trabalho social na nossa cidade em lares de idosos, escolas onde se conscientiza sobre castração e posse responsável, trabalho com crianças autistas, e ela está sendo aposentada’ enfatizou.
Após o debate a Moção de Aplausos foi aprovada por 9 votos favoráveis (Claudinei da Rocha, Della Motta, Gilson Pelizaro, Lindsay Cardoso, Luiz Amaral, Marcelo Tidy, Pastor Palamoni, Ronaldo Carvalho e Zezinho Cabeleireiro) e 4 votos contrários (Daniel Bassi, Donizete da Farmácia, Ilton Ferreira, Kaká e Lurdinha Granzotte).
Foi apresentado um vídeo com ações da cachorra Ronda na cidade e em seguida os donos do animal usaram a Tribuna.
Mateus disse ‘diferentemente de todos que acham que são só os adestradores. Não existe só isso! Se não tiver um perfil único para aquela situação diagnosticada para o animal não tem o trabalho’
‘O melhor adestrador do mundo se não tiver cachorro próprio para a situação aquele cachorro não vai ser formar para aquilo’ ressaltou.
‘A Ronda foi retirada das ruas num momento que chegou muito frágil, machucada, com a orelha a ponto de cair, foi diagnosticada com câncer na época e tratada, e fizemos todo trabalho em volta dela e podemos identificar um temperamento ímpar. E isso acontece poucas vezes que nós adestradores podemos observar’ enfatizou.
‘Por isso a importância de exaltar o trabalho da Ronda, ela quando vai a um lar de idosos e onde tem enfermos consegue diagnosticar as pessoas. Muitas vezes com necessidade de amparo psicológico e emocional, a Ronda consegue prestar em amor nos olhos, acalmar a pessoa no período de visit. É diferenciado, não é todo cachorro que faz isso’ concluiu.
Paola também fez uso da Tribuna e explicou ‘lógico que para chegar onde a Ronda chegou nós fomos o veículo, mas quem faz tudo é ela! A gente treina os cães para andar juntos, sentar, deitar, ajudar os idosos no transporte com a cadeira, fazer fisioterapia, mas o amor, o carinho, quem dá é ela’
‘Eu não ensinei isso para ela, ela veio pronta! A Lindsay achou essa homenagem para Ronda válida porque faz sete anos que ela faz o que muita gente não faz!’ acrescentou.
‘Uma cachorra que serviu a população de Franca durante tantos anos merece realmente ser homenageada’ concluiu.